sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um novo PT no Estado

Após um período sem protagonizar um projeto político para o Estado, o Partido dos Trabalhadores ressurge do seu processo interno de planejamento estratégico, com oxigênio político para apresentar um novo diálogo para a sociedade capixaba. Porém, faz-se necessário trazer à memória uma revisão da história, e dela o saldo do aprendizado que traz o impulso para a nossa união, mobilização e reativação como protagonista de um novo projeto.

Desde 1995 com a eleição de Vitor Buaiz , e o expressivo resultado nas urnas com a eleição de seis deputados estaduais e um federal, a experiência deixou marcas profundas no partido. Um término de governo em pleno colapso financeiro e quatro meses de salários atrasados serviu de grande lição, ao mesmo tempo de alerta, para revermos caminhos, ações e amadurecer enquanto agente político.

Fica então o registro que faltou aos petistas solidariedade ao companheiro Vitor e compromisso em fazer o mea-culpa daquele fatídico desempenho governamental. A história fez-nos compreender as dificuldades enfrentadas pelo partido e o vácuo existente em seu papel político no cenário estadual.

Agora vivemos um momento novo, de 31 anos de caminhada partidária, com experiências de gestão e o aperfeiçoamento do "modo petista de governar" em todos os níveis. E com a habilidade de ter governado o Brasil durante oito com Lula, que construiu uma nova nação pautada no sucesso de movimentos políticos, econômicos e sociais, sintetizado em sua marca: "Brasil, um país de todos". Um governo forte e vitorioso que terminou sua gestão com 80% de aprovação e capaz de eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, abarcada com uma ampla aliança e uma governabilidade estável.

O PT foi parceiro na reconstrução de um novo ES, durante os oito anos de Paulo Hartung, e um dos principais atores da continuidade desse projeto. Ajudou no processo de diálogo com a sociedade, mobilizando suas bases sociais, levando seus militantes às ruas, com a vitória maiúscula do seu aliado histórico, o PSB, elegendo Renato Casagrande governador, tendo o PT em sua vice.

Com este espírito o presidente Givaldo Vieira convocou a militância e os seus dirigentes, para, por meio de um amplo debate, construir seu Planejamento Estratégico, com o principal objetivo de fortalecer, organizar e instrumentalizar o PT do ES para as disputas eleitorais, vencendo nos municípios já administrados pelo partido e ampliando o número de prefeitos e vereadores em 2012.

É este partido, com a musculatura de quem no Estado governa seis municípios, sendo quatro de peso político, que compõe o governo federal, com uma ministra e uma senadora, que possui quatro deputados estaduais de representatividade política e um vice-governador, assume a retomada da iniciativa política ao apresentar a sociedade capixaba em 2011 seu Planejamento Estratégico.

Um novo desafio que convoca seus dirigentes, parlamentares e prefeitos para dialogar com a base e com os diretórios, preparando-se para conquistar novos espaços e novas lideranças. Um partido com reais possibilidades para ampliar seu capital político, ajudando o Estado a caminhar, lado a lado com o governo federal, superando suas dificuldades de infraestrutura. O resultado deste desempenho e esforço colocará o PT em iguais condições para disputa em 2014. Este é o PT do ES!


Marta Gagno Intra é membro da Executiva Estadual do PT

Texto publicado na coluna Opinião da edição de 06/05 do jornal A Gazeta

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Recuperar o tempo perdido

No início da nossa a militância política na década de 70, eu e minha geração aprendemos a ter consciência e orgulho da importância histórica e cultural de Vila Velha, como um dos mais antigos polos de formação da identidade cultural da civilização brasileira. Acho que essa consciência impulsionou gerações, antes e depois da minha, que legaram um intenso ativismo político de organização da sociedade civil que marca a nossa história. E que está expressa em vários momentos.

Na luta pela volta da democracia, com Vila Velha elegendo sucessivos candidatos de oposição à ditadura; na resistência à extinção da cidade, negando em plebiscito a "fusão" com Vitória, proposta pelo governador "indireto" da época; na efervescência das Comunidades Eclesiais de Base e da Teologia da Libertação fermentando os bairros de periferia; na luta pelos direitos civis, com a mobilização em movimentos sociais e comunitários pela transparência pública; pela discussão do orçamento; pelo combate à corrupção e pela melhoria de vida.

Movimentos que levaram a cidade a ser, em 1983, a primeira do Brasil a implantar um governo de participação popular, instituindo a pioneira assembleia de orçamento participativo, em 1985. Também foi a primeira a promover eleições diretas para diretor de escola e, em 1988, as eleições para diretor de unidade de saúde.

No âmbito partidário, onde se dava o combate contra a ditadura, Vila Velha indicou, em 1986, o candidato que venceria a segunda eleição direta para governador: Max Mauro do PMDB. O governador Paulo Hartung teve mais da metade dos votos para seu primeiro mandato político no berço canela-verde. E na última eleição presidencial, quando deu a vitória a Marina Silva, apoiando junto com outras importantes cidades do Brasil, a renovação política e a economia limpa.

Contudo, no plano do poder local e de liderança política e qualidade da gestão, a sensação que temos é que a cidade ficou para trás. Depois da vanguarda na ação política, social e administrativa, Vila Velha está ultrapassada por outras cidades da Grande Vitória e mesmo do interior, no que se refere à eficiência de sua máquina pública, à continuidade e excelência de suas políticas, à transparência na gestão dos recursos e da estrutura institucional.

Este processo impõe um dilema para nossas gerações democráticas e para os representantes políticos da cidade: como construir um novo modelo de ação política? Um modelo que abandone de vez as velhas práticas condenadas de clientelismo e fisiologismo que mancham nosso brilho histórico e pioneirismo político.

Assim, faz-se fundamental que a sociedade civil tenha a iniciativa política quanto à discussão de nosso futuro. Só a "batalha de ideias", nos movimentos comunitários, sindicais, de consumidores, de usuários, de intelectuais, de empresários comprometidos com a qualidade do ambiente, de moradores e cidadãos, pode gerar o ambiente e o impulso para o surgimento do novo na política canela-verde.

Aos partidos e seus líderes cabe participar ativamente dessa mobilização da sociedade, sem maniqueísmo e cooptação, respeitando sua independência e acreditando que desse processo pode nascer uma nova política que devolva a Vila Velha seu histórico protagonismo político e social.

João Batista Babá é vereador (PT) em Vila Velha

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CARTA ABERTA A POPULAÇÃO

É cada vez mais comum vários empreendimentos e complexos industriais serem aprovados sem respeito ao ambiente natural e as comunidades locais não só no estado do Espírito Santo, mas no Brasil como um todo. Isso ocorre tendo em vista que as legislações ambientais não são respeitadas e os órgãos competentes (Instituto Estadual do Meio Ambiente- IEMA, Instituto de Defesa Agropecuária e Agroflorestal- IDAF, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, etc.) não atuam da maneira que deveriam.

O Estado, comprometido com as grandes empresas e projetos,
acaba legitimando ações que comprometem os nossos recursos hídricos e naturais. Como exemplo no estado temos a questão do estaleiro da Jurong em Aracruz, o complexo siderúrgico da Vale (CSU) em Anchieta e a problemática dos lançamentos de dejetos industrias pela Suco Mais – Coca Cola em Linhares, só para citar três exemplos bem recentes.Em todos os casos há uma reprovação por parte da comunidade local, por pesquisadores e até mesmo por alguns técnicos do órgão ambiental responsável (fato que desencadeou em uma paralisação dos servidores do IEMA). Os técnicos que demonstram pareceres contrários a esses empreendimentos são pressionados e alguns até mesmo pedem demissão ou são demitidos. As comunidades afetadas são criminalizadas, processadas e intimadas por parte do poder público, da mídia e do aparato militar; e até mesmo pesquisadores são desconsiderados e subalternizados nesse processo.

A “tendência desenvolvimentista” vem impondo regras e medidas que contrapõem o equilíbrio da natureza. O discurso dominante está presente em todos os espaços: nossas casas, nas escolas e universidades, na mídia, na política, etc.

Em primeiro lugar vem a busca incessante pelo lucro forjado no conceito de “desenvolvimento econômico” que gera o desequilíbrio social-ambiental, tendo de um lado dominantes e de outro dominados excluídos.

Na década de 1950 foi criado a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo – Findes que desde então exerce muita influência e controle sobre importantes decisões do estado do Espírito Santo. No seu ano de fundação, foi propagada a idéia que o café, base da economia capixaba, estava em crise, e as pautas da Findes viraram pautas do governo. Ou seja, a expulsão do homem do campo para as cidades para serem consumidores (e não mais produtores) vira mão de obra para as indústrias (lembrando que foi uma pequena parcela da população). Atualmente, outra pressão vem sendo feita por parte da Findes. Na revista de julho de 2010 do Sistema Findes há uma série de reivindicações para a área de licenciamento ambiental que, segundo eles, está lenta e impedindo o “crescimento econômico” do estado.

Segundo a autora do artigo, Jaqueline Vitoria, “hoje, o empreendedor disposto a investir no estado precisa, antes de tudo, de paciência”. E ainda completa: “Perde o empresário, que se vê impedido de crescer, perde a comunidade, que deixa de ter novos posto de trabalho, e perde o próprio estado, que poderia ter uma arrecadação de impostos maior”.

Contudo o que se vê na realidade é bem diferente, pois isso já passou por terras capixabas. O discurso do emprego por parte da Findes é superficial, os trabalhadores que atuam no processo de construção do empreendimento são, na sua maioria,
vindos(as) de fora da localidade de construção e poucos se tornarão efetivos da indústria, ou ainda, alguns na lógica neoliberal irão até trabalhar nesses empreendimentos, porém como funcionários terceirizados, tendo menos direitos trabalhistas, menores salários, etc.

As comunidades locais mais perdem do que ganham, vide exemplos das comunidades de Monteiro e Chapada do A em Anchieta (construção da CSU) ou da Barra do Riacho em Aracruz (Jurong, Fibria). Se se sentissem beneficiadas, estas comunidades não estariam se posicionado contra liberação da construção das indústrias (e também das que já estão em vigor). Pelo contrário, estas se sentem agredidas, alertando inclusive a sociedade para os impactos de graves proporções que esses complexos trariam em seus modos de vida.
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Ressalta-se ainda que as taxas de impostos são baixas em relação ao estrago que essas indústrias comprovadamente causam e ainda causarão no ambiente. Outro detalhe é que elas gastam muita mais água e energia, em muitos casos nada pagando, como é o caso da empresa Aracruz Celulose, a atual Fibria, em relação ao uso da água no seu complexo industrial celulósico, enquanto o consumidor na cidade paga muito caro. E ainda exploram os recursos naturais de maneira irresponsável, prejudicando comunidades locais, flora e a fauna.

Além de criar todo um discurso a favor dos empresários e grandes empreendimentos, o presidente do Conselho Superior de Meio Ambiente da Findes e proprietário da Cocrevi,Loreto Zanotto, diz que para diminuir a demora e os entraves legais existentes é preciso informatizar o acompanhamento dos processos nos órgãos ambientais.

Informatizar significa tecnificar o processo. E assim, fica claro que, além da agilidade, eles também procuram facilidades e privilégios para seus projetos. Chega-se ao caso do presidente da FINDES, Lucas Izoton, pedir mutirões para os processos burocráticos de licenciamento por parte dos órgãos públicos, colocando como prioridade os projetos que “geram” mais empregos e que injetam bilhões de reais na “nossa” economia. Embora, o pronome “nossa” se refira a toda a população, esse dinheiro acaba, na verdade, indo para o bolso deles, ou seja, para a “suas” economias.

Percebe-se no estado do ES que os processos de licenciamento ambiental requeridos por grandes projetos, quase sempre são aprovados não respeitando EIA-RIMAs ou mesmo mascarando os relatórios desses documentos. Segundo técnicos do IEMA “há uma pressão para que os técnicos emitissem pareceres favoráveis aos grandes empreendimentos. O caso da Jurong foi um rompimento, pois a direção deu parecer contrário ao dos técnicos, chegando alegar que a decisão dos técnicos foi imatura”.

Os grandes empreendimentos empresariais levam vantagens por meio da cumplicidade do Estado e seus órgãos de licenciamento, concedendo licenças duvidosas, desrespeitando pareceres técnicos, territórios comunitários, direitos humanos da população impactada, o meio natural preservado (APP), etc.

E a população, por sua vez, perde duas vezes: sofre os impactos desses grandes projetos, além de conviver com a precariedade (ou decadência) do serviço no atendimento das demandas de reais interesses populares. Para citar um caso, como exemplo, temos os pescadores e catadores de caranguejo de Cariacica. Segundo eles, “o IEMA não libera para que construíssemos uma casinha para nosso barco, mas libera a destruição do lado esquerdo do manguezal com construção daquele Alphaville. Aí depois que destrói eles pagam com serviço de compensação, que não compensa nada”.

Então algumas questões se colocam para reflexão da sociedade. A quem serve esse dito crescimento econômico? E as mazelas e exclusão social, quem paga?

As populações locais atingidas por complexos industriais podem nos dar um panorama sobre essa questão. Dar ouvido às vozes dos que foram impactados e pagaram com a perda de suas terras, de sua cultura e de seu modo de vida desde o fim da década de 1950 no estado pode nos ajudar a compreender melhor a história!

Associação dos Geógrafos Brasileiros- Seção Local - Vitória

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Participação Popular via Internet: "Uma faca de dois gumes"

A partir da leitura da proposta do Sistema Informatizado de Gestão Comunitária adotado pela Prefeitura de Vila Velha (PMVV), surgiu essa reflexão. Em seu site, a PMVV define: "É um sistema on-line de integração para os líderes comunitários e gestores públicos, promovendo um contato maior e mais eficiente para beneficiar a todos".

O sistema vai dispor aos líderes comunitários um portal na internet com informações e notícias dos bairros, calendário de eventos, listagem dos moradores e equipamentos públicos, demandas das comunidades e fórum de discussão. O prefeito afirmou que "esse instrumento (...) será um canal direto dos líderes comunitários com a administração, modernizando a relação da população com o poder público municipal". Com isso, o objetivo da prefeitura é aproximar o poder público da população.

Não resta dúvida de que a Internet é uma importante ferramenta para a melhoria da participação popular. Podemos, hoje, acessar as contas de uma prefeitura em tempo real ou não, promover a discussão e opinar sobre a qualidade dos serviços públicos. A população ganha facilidade no controle social e o poder público aumenta sua legitimidade ao dar transparência a seus atos. Mas como tudo na vida, essa também é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que dinamiza o acesso à informação, pode contribuir para a desmobilização popular, por trazer embutido um processo de afastamento físico entre o poder público e a população. Podemos supor que comunicar-se com a comunidade via internet é uma forma de manter-se longe das reuniões do orçamento participativo (OP) e do contato direto com os movimentos sociais organizados?

Levando em consideração que os movimentos comunitários de Vila Velha sofrem com a falta de estrutura, quantos deles têm acesso a internet? Quantas lideranças sabem utilizá-la? Como fica o papel do líder comunitário neste processo, como voz da comunidade e canal com a prefeitura? A prática vai facilitar o personalismo, já que ao cidadão comum sobrará somente a intermediação do líder?

Acredito na internet como instrumento de participação democrática. No caso particular desse sistema, creio que poderia ser usado com um caráter plebiscitário, como na escolha de obras do OP; momento para a população opinar sem restrições para acessar o programa.

Mais desafios: como combinar a participação real com a virtual? Como fiscalizar via Internet, e motivar a participação dos conselhos setoriais e dos fóruns de discussão, para evitar acomodação no aconchego do lar?

As respostas não são fáceis. No entanto, não podemos deixar cair no esquecimento os mecanismos criados pela sociedade brasileira a preços altos em prol da criação dos conselhos, das assembleias do OP etc. Não podemos sucumbir às visões puramente tecnicistas e sim utilizar a internet para expandir a participação popular na democracia.

Política não se faz somente em frente ao computador, mas não podemos negar esta poderosa ferramenta de participação!

João Batista Babá – vereador de Vila Velha

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Michael Moore escreve sobre Lula para a Time

Michael Moore, documentarista americano, escreve sobre Lula a pedido da Time. O presidente brasileiro foi eleito a personalidade política mais influente do mundo

Quando os brasileiros elegeram pela 1° vez Luiz Inácio Lula da Silva, presidente em 2002, os barões ladrões do país nervosamente checaram as bitolas de combustível de seus jatos privados. Eles transformaram o Brasil em um dos lugares mais injustos da terra, e agora parece tempo de recuperação de investimento. Lula, 64 anos, foi um filho genuíno da classe trabalhadora da América Latina, na verdade, um dos membros fundadores do Partido dos Trabalhadores – que foi preso por liderar uma greve.

Naquela época Lula ganhou a presidência, depois de 3 tentativas sem sucesso, ele era uma figura familiar na vida nacional brasileira. Mas o que o levou para a política pela primeira vez? Foi o seu conhecimento pessoal de como quão pesado era o trabalho para os brasileiros, só para início de conversa? Ser forçado a deixar a escola depois da quinta série para sustentar a família? Trabalhar como engraxate? Perder parte do dedo num acidente de fábrica?

Não, foi quando, aos 25 anos, ele assistiu sua esposa Maria morrer aos 8 meses de gravidez e junto com ela o filho deles, pois eles não podiam pagar assistência de saúde decente.

Há aqui uma lição para os bilionários do mundo: deixem que as pessoas tenham uma boa assistência de saúde e elas causarão bem menos problemas para vocês.

E fica aqui uma lição para o resto de nós: a grande ironia da presidência do Lula - ele foi eleito para um segundo mandato em 2006 e trabalhará até o final deste ano – é que mesmo enquanto ele tenta impulsionar o Brasil para o primeiro mundo com programas sociais governamentais como o Fome Zero, desenvolvido para acabar com a fome, e com planos para melhorar a educação disponível aos membros da classe trabalhadora brasileira, os E.U.A. parecem, cada dia mais, com o obsoleto terceiro mundo.

O que Lula deseja para o Brasil é o que costumávamos chamar de sonho americano. Nós, dos E.U.A., em contraste, onde os mais ricos 1% [da população], que agora possui mais riqueza financeira do que os 95% dos mais pobres combinados, estamos vivendo em uma sociedade que está, rapidamente, tornando-se muito parecida com a do Brasil.

Tradução livre de Rita Uliana da noticia publicada no site da revista Time no dia 29/04/10


O Brasil decola

Quando, lá em 2003, economistas da Goldman Sachs[corretora de títulos imobiliários] comparou o Brasil com a Rússia, Índia e China como economias que poderiam vir a dominar o mundo, houve muita crítica sobre a entrada do B na sigla BRIC. Brasil? Um país com uma taxa de crescimento tão apertada como um maiô, vítima de qualquer crise financeira que aparecer, um lugar de instabilidade política crônica, cuja infinita capacidade de esbanjar seu óbvio potencial era tão lendário quanto seu talento para futebol e carnavais, não pareceria pertencer aquele grupo de titãs emergentes.

Agora aquele ceticismo parece deslocado. A China pode estar liderando a economia mundial fora da recessão, mas o Brasil também está nessa lista. Isso não evitou a recessão, mas o fez estar entre os últimos a entrarem nela e entre os primeiro a sair. Sua economia está crescendo novamente a uma taxa anual de 5%. Isso deve crescer numa velocidade ainda maior nos próximos anos devido a uma grande e profunda reserva marinha de petróleo em andamento e pelos países asiáticos que continuam famintos pela comida e minerais da vasta e generosa terra brasileira. As projeções são diversas, mas às vezes na década pós 2014 – mais rápido que a Goldman Sachs havia previsto – o Brasil provavelmente está para se tornar a quinta maior economia mundial, ultrapassando Grã Bretanha e França. Para 2025 São Paulo será a quinta cidade mais rica do mundo, de acordo com a consultoria de PwC [PricewaterhouseCoopers].

E, em algumas áreas, o Brasil ultrapassa os outros países do BRIC. Diferente da China, é uma democracia. Diferente da Índia, não tem rebeldes, conflitos étnicos e religiosos nem vizinhos hostis. Diferente da Rússia, exporta mais combustível e armas, além de tratar os investidores estrangeiros com respeito. Durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, um líder de formação sindical nascido na pobreza, o governo tem se movimentado para reduzir as profundas desigualdades que a tanto tempo desfigura o país. Na verdade, quando fala-se de política social inteligente e de impulsionar o consumo interno, o desenvolvimento mundial tem muito mais para aprender com o Brasil do que com a China. Em suma, o Brasil subitamente parece ter entrado no palco mundial. Sua chegada foi simbolicamente marcada, no mês passado, pela concessão de sediar as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, além de, dois anos antes, o Brasil também receber a Copa do Mundo de Futebol.

Afinal, a percepção econômica
Na verdade, a ascensão do Brasil tem sido regular, não repentina. Os primeiros passos foram dados nos anos 90 quando, tendo se exaurido todas as outras opções, estabeleceu-se a sensível configuração das políticas econômicas. A inflação foi domada, e os governos locais e federal, até então perdulários, foram obrigados por lei a conter suas dívidas. O Banco Central teve sua autonomia garantida, ficou responsável por manter a inflação baixa e assegurou que os bancos evitassem a aventura que prejudicou a Grã Bretanha e Estados Unidos. A economia foi aberta ao comércio e investimento estrangeiros e muitas indústrias estatais foram privatizadas.


Tudo isso ajudou a geração de um grupo de novas e ambiciosas multinacionais brasileiras. Algumas são, a princípio, companhias estatais que estão florescendo como um resultado de estarem autorizadas a operar a uma certa distância do governo. Isso vale também para a companhia nacional de petróleo, Petrobras, para a Vale, uma gigante mineradora e Embraer, indústria brasileira de aviação. Outras são empresas privadas como a Gerdau – uma siderúrgica, ou JBS, que breve será o maior produtora de alimentação. Na seqüência está um novo grupo de ágeis empresários, endurecidos nas batalhas de um passado negativo não tão recente. Os investimentos estrangeiros estão chegando em larga escala, atraídos por um mercado que foi impulsionado pela queda da pobreza e aumento da classe média baixa. O país estabeleceu algumas fortes instituições políticas. Uma livre e vigorosa imprensa revela a corrupção – ainda que haja bastante e em sua maioria continue impune.

Exatamente como poderia ser um erro, subestimar o novo Brasil, seria um erro encobrir suas deficiências. Alguns desses são depressivamente familiar. Gasto governamental está crescendo mais rápido do que a economia como um todo, mas tanto setores públicos como privados ainda investem muito pouco, colocando um ponto de interrogação sobre essas esperançosas previsões de crescimento. Dinheiro público demais está indo para coisas erradas. A folha de pagamento do governo federal cresceu 13% desde setembro de 2008. O gasto com a seguridade social e pensões aumentou 7% no mesmo período, embora a população seja relativamente jovem. Apesar de recentes melhorias, a educação e infraestrutura ainda estão atrás da China ou Coréia do Sul (conforme a crítica de uma grande potência, nesta semana, recordou os brasileiros). Em algumas partes do Brasil, o crime violento ainda é elevado.

Campeões nacionais e desvantagens nacionais
Existem novos problemas no horizonte, logo após essas plataformas de petróleo marinhas. O real se valorizou quase 50% em relação ao dólar desde dezembro [2008]. Isso aumenta o padrão de vida do brasileiro fazendo a importação baratear. Mas isso dificulta a exportação. O governo mês passado impôs uma taxa no fluxo de capitais de curto prazo. Mas isso é diferente de valorização da moeda, especialmente quando o bombeamento de óleo se inicia.

A resposta instintiva de Lula para esse dilema é a política industrial. O governo solicitará à indústria petrolífera que os materiais para seu abastecimento – de canos a navios - sejam produzidos localmente. Isso está levando a Vale a construir uma grande aciaria. É verdade que essa política pública ajudou a criar uma base industrial brasileira. Mas a privatização e a abertura ajudaram a chegar a esse patamar.
Entretanto, o governo não está fazendo nada para vencer muitos dos obstáculos de fazer negócios – notadamente as regras barrocas sobre tudo, a exemplo de investir os impostos no emprego de pessoal. Dilma Rousseff, candidata do Lula no próximo outubro na eleição presidencial, insiste que não há necessidade de reforma na arcaica legislação trabalhista.

E talvez esse seja o grande perigo que o Brasil tem pela frente: arrogância. Lula está certo quando diz que seu país merece respeito tanto quanto ele merece muito da adulação que ele gosta. Mas ele também tem sido um presidente sortudo, colhendo as recompensas do bom do comodismo e operando na sólida plataforma para crescimento erguida pelo seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. A manutenção dessa performance brasileira de melhorias num sofrimento mundial de tempos difíceis significa que o sucessor de Lula terá que combater alguns desses problemas que ele foi capaz de ignorar. Então, a chegada da eleição pode determinar a velocidade com que o Brasil avançará na era pós Lula. Todavia, o curso da nação parece estar traçado. Essa decolagem é mais admirável por causa de estar sendo alcançada por construção de consensos reformistas e democráticos. Se pelo menos a China pudesse dizer o mesmo.

Tradução livre de Rita Uliana da matéria publicada no site da revista The Economist e divulgada pelo site do Ministério de Relações Exteriores do Brasil 13/11/09

quinta-feira, 22 de abril de 2010

TV Globo, o clip do Serra e os ingênuos

O clima é de velório na TV Globo! Em menos de 24 horas, a poderosa emissora foi obrigada a retirar do ar um comercial comemorativo dos seus 45 anos que custou uma fortuna – envolvendo vários artistas e milionária produção. O clip parecia uma peça publicitária do presidenciável demotucano José Serra. Utilizava um bordão semelhante ao da sua campanha, “O Brasil pode mais”, com as estrelas globais em coro implorando “todos queremos mais”, e trazia em destaque o número 45, o mesmo da legenda do PSDB – inclusive com uma fonte de letra bastante similar.

O ousado e descarado comercial gerou uma imediata onda de indignação na globosfera. Marcelo Branco, um dos responsáveis pela campanha de Dilma Rousseff na internet, acusou a TV Globo de fazer propaganda subliminar do adversário. “Eu e toda a rede vimos essa alusão”, disparou em seu twitter. Já o jornalista Paulo Henrique Amorim, do acessado blog Conversa Afiada, exigiu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) averiguasse a possibilidade de crime eleitoral promovido pela emissora. O “clip pró Serra” foi exibido com críticas em centenas de sítios e blogs.

Desculpa esfarrapada e risível

Diante do levante dos internautas, a emissora colocou o rabinho entre as pernas e retirou o vídeo das telinhas e do seu próprio sitio. Quem clica na página recebe a curta mensagem: “página não encontrada”. Numa nota lacônica, a Central Globo de Comunicação ainda tentou justificar a feia pisada na bola. Afirmou que o filme foi criado em novembro de 2009, quando “não existiam nem candidaturas muito menos slogans”, e informou: “Mas a Rede Globo não pretende dar pretexto para ser acusada de ser tendenciosa e está suspendendo a veiculação do filme”.

A desculpa é das mais esfarrapadas e risíveis. Será que o candidato tucano, após reunião secreta no Jardim Botânico, roubou o mote do comercial comemorativo de TV Globo? Seria mais um crime de plágio, tão comum a Serra. Ou foi a emissora que aproveitou o lema de campanha da oposição para fazer propaganda antecipada? Seria um nítido crime eleitoral. Ou as duas hipóteses? Os vínculos políticos entre Serra e a famíglia Marinho são antigos e notórios. A TV Globo teria todo o tempo hábil para cancelar o clip e evitar o vexame, mas preferiu apostar no seu prestígio.

Uma emissora “tendenciosa” e cínica

Quanto a ser tachada de “tendenciosa”, como afirma a risível nota, isto não é uma acusação, mas sim um fato – comprovado pela história. A TV Globo tentou fraudar a vitória de Leonel Brizola nas eleições para o governo do Rio de Janeiro em 1982. A TV Globo escondeu as manifestações das Diretas-já, tratando um gigantesco ato em São Paulo como “uma festa de aniversário” da cidade. A TV Globo forjou a imagem do “caçador de marajás” para garantir a vitória de Collor de Mello em 1989. A TV Globo criminaliza os movimentos sociais, tratando-os como “caso de polícia”, e faz de tudo para desestabilizar o governo Lula – inclusive apostando no seu impeachment.

Mais recentemente, a TV Globo foi a principal patrocinadora do seminário da Casa Millenium, que reuniu os barões da mídia com o objetivo explícito de traçar uma tática unitária para derrotar Dilma Rousseff. Os astros globais, como Arnaldo Jabor, Willian Waack e outros, foram os mais hidrófobos nos ataques à candidata que representa a continuidade do projeto do governo Lula. O clip pró Serra talvez tenha sido uma das peças da TV Globo para a batalha sucessória. Mas a poderosa emissora, que se acha um semideus, acabou se dando mal e pagou um baita mico.

“Foi sem querer, querendo”

Este episódio grotesco traz várias lições. Por um lado, comprova que a batalha eleitoral deste ano será das mais sujas e ardilosas e confirma que os principais meios de comunicação já escolheram o seu lado e não vacilarão na campanha. Não dá para ser ingênuo ou alimentar qualquer ilusão na pretensa neutralidade da mídia. Por outro, ele mostra que a sociedade está mais atenta diante das manipulações e indica que a internet terá maior influência e será uma arma poderosa neste pleito, ajudando a fiscalizar as sujeiras e manobras dos barões da mídia.

Para Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador, “o interessante é que o recuo da Globo mostra que eles temem a internet. Foi pela internet que se deu o alarme contra a propaganda descarada para o Serra. A Veja pode se dar ao luxo de cair no gueto da extrema-direita... A Folha e o Estadão também podem cair no gueto. Já caíram. Mas a TV Globo, não. Ela fala para milhões. Se ficar colada à imagem dela o rótulo de antipopular, o estrago será enorme. A Globo – a essa altura do século 21 – precisa agir com um pouco mais de cautela. Vai fazer campanha para o Serra, não resta dúvida. Mas sempre que isso ficar escancarado, ela vai recuar e dizer: ‘foi sem querer, querendo’”.blog Miro

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Para quem não viu a vinheta:
http://www.youtube.com/watch?v=AU6d2XKTvi0