No início da nossa a militância política na década de 70, eu e minha geração aprendemos a ter consciência e orgulho da importância histórica e cultural de Vila Velha, como um dos mais antigos polos de formação da identidade cultural da civilização brasileira. Acho que essa consciência impulsionou gerações, antes e depois da minha, que legaram um intenso ativismo político de organização da sociedade civil que marca a nossa história. E que está expressa em vários momentos.
Na luta pela volta da democracia, com Vila Velha elegendo sucessivos candidatos de oposição à ditadura; na resistência à extinção da cidade, negando em plebiscito a "fusão" com Vitória, proposta pelo governador "indireto" da época; na efervescência das Comunidades Eclesiais de Base e da Teologia da Libertação fermentando os bairros de periferia; na luta pelos direitos civis, com a mobilização em movimentos sociais e comunitários pela transparência pública; pela discussão do orçamento; pelo combate à corrupção e pela melhoria de vida.
Movimentos que levaram a cidade a ser, em 1983, a primeira do Brasil a implantar um governo de participação popular, instituindo a pioneira assembleia de orçamento participativo, em 1985. Também foi a primeira a promover eleições diretas para diretor de escola e, em 1988, as eleições para diretor de unidade de saúde.
No âmbito partidário, onde se dava o combate contra a ditadura, Vila Velha indicou, em 1986, o candidato que venceria a segunda eleição direta para governador: Max Mauro do PMDB. O governador Paulo Hartung teve mais da metade dos votos para seu primeiro mandato político no berço canela-verde. E na última eleição presidencial, quando deu a vitória a Marina Silva, apoiando junto com outras importantes cidades do Brasil, a renovação política e a economia limpa.
Contudo, no plano do poder local e de liderança política e qualidade da gestão, a sensação que temos é que a cidade ficou para trás. Depois da vanguarda na ação política, social e administrativa, Vila Velha está ultrapassada por outras cidades da Grande Vitória e mesmo do interior, no que se refere à eficiência de sua máquina pública, à continuidade e excelência de suas políticas, à transparência na gestão dos recursos e da estrutura institucional.
Este processo impõe um dilema para nossas gerações democráticas e para os representantes políticos da cidade: como construir um novo modelo de ação política? Um modelo que abandone de vez as velhas práticas condenadas de clientelismo e fisiologismo que mancham nosso brilho histórico e pioneirismo político.
Assim, faz-se fundamental que a sociedade civil tenha a iniciativa política quanto à discussão de nosso futuro. Só a "batalha de ideias", nos movimentos comunitários, sindicais, de consumidores, de usuários, de intelectuais, de empresários comprometidos com a qualidade do ambiente, de moradores e cidadãos, pode gerar o ambiente e o impulso para o surgimento do novo na política canela-verde.
Aos partidos e seus líderes cabe participar ativamente dessa mobilização da sociedade, sem maniqueísmo e cooptação, respeitando sua independência e acreditando que desse processo pode nascer uma nova política que devolva a Vila Velha seu histórico protagonismo político e social.
João Batista Babá é vereador (PT) em Vila Velha